Meus Lábios, Dois Humildes Peregrinos ...
Romeu: Se profanei com minha mão sacrílega
o santo relicário dessa mão, para tão doce
falta a doce pena é esta :
Meus lábios, dois humildes peregrinos, só vos
pedem a graça de expiar com ternos beijos
a profanação da minha rude mão.
Julieta: Meu bom romeiro, sois severo demais
com a vossa mão, que só mostrou com
isso a sua devoção.
As santas também têm mãos, que os
romeiros podem tocar, quando eles bem desejam.
E unindo as palmas é que as mãos se beijam.
Romeu: As santas e os romeiros não têm lábios?
Julieta: Sim, romeiro, mas só para a oração.
Romeu: Oh! Se assim é, minha querida santa, que os
lábios façam o que fez a mão!
Eles vos rogam; concedei a graça, para que
a sua fé não se desfaça!
Julieta: não precisam se mover.
Romeu: Ficai imóvel, pois, minha santa querida,
enquanto eu colho a graça concedida.
(Beija-a)
Vossos lábios dos meus o pecado apagaram.
Julieta: Mas com o vosso pecado os meus ficaram!
Romeu: Ficaran com o pecado? Ó doce usurpação!
Restitui-me o meu pecado então!
(Beija-a de novo)
Julieta: Sois perito na conta de beijar!
Como a voz dos amantes tem à noite um som
tão melodioso e enternecido!
Que música é mais doce para o ouvido?
Boa noite! Boa noite! Boa noite! A despedida
é dor, tão doce, todavia, que
te darei boa noite até que seja dia.
William Shakespeare
" Romeu e Julieta "